Paula Mota's Reviews > Look at the Lights, My Love
Look at the Lights, My Love
by
by
#WITMonth 2023
We’re a community of desires not action.
É verdade que já deixei de ter paciência para Annie Ernaux, mas este livro, tal como as luzes a que se refere o título, estava a piscar no meu serviço de subscrição, por isso, cedi e, desta vez, não me arrependi, já que me deixa mais à vontade neste registo sociológico com que consigo identificar-me do que com as referências demasiado francesas ou com a sua memória afectiva, a qual me tem fornecido constrangedores momentos de voyeurismo.
Escrito quase como um diário entre novembro de 2012 e julho de 2013, “Look at the Lights My Love” relata, por vezes com um sentido de humor que não lhe conhecia, as mundanas incursões da autora no hipermercado da Auchan, num subúrbio francês, durante um período que conhece vários picos de consumo, o Natal, a Páscoa, o regresso às aulas, ou alturas mais mortas em que observa as duvidosas promoções…
The superstores’ art of making people believe in its benevolence.
…as campanhas dirigidas a quem ainda mais frequenta lojas…
Nothing has changed since Émile Zola’s “The Ladies’ Paradise”. Women are always the primary consenting targets of commerce.
…a quase ausência de outros livros à venda para além dos bestsellers, mas a alegria de encontrar um dos seus, mesmo que em formato de bolso.
In any case I always feel bad placing a book on a conveyor belt as if it were a sacrilege though I would be happy to see one of mine pulled from a shopping cart and slid onto the belt between a pound of butter and a pair of tights.
Mas, curiosamente, também se vê observada como figura pública quando algum leitor a reconhece.
At the checkout (…) a customer with a wheeled shopping basket offers me her spot. As I vigorously decline – do I look that tired ? That old? – she smiles and says she knows my writing (…). Placing my items on the conveyor belt I think a little uneasily that she’s going to look to what I’ve bought. Every item suddenly takes a loaded meaning, reveals my lifestyle.
Neste pequeno ensaio sobre a sociedade de consumo nesse grande nivelador social e étnico que é o hipermercado…
Whether we like it or not we form a community of desires here.
…Ernaux chama a atenção para as condições de trabalho nas fábricas de vestuário no Sudeste Asiático, faz um contraponto da abundância actual face à época do pós-guerra em que ela cresceu, comenta a falta de idas ao supermercado na ficção e, acima de tudo, insiste na cristalização da imagem da mulher, tanto no papel do grande consumidor por tradição e necessidade, como na perpetuação dos estereótipos.
Gender-conditioning doesn’t bother with subtleties or imagination. It’s all just like mom in miniature. I’m shaken with anger and a feeling of powerlessness. This is where you have to come, to places where our unconscious minds are shaped and slash and burn all these objects of transmission. I’ll be there.
E eu também, Annie!
We’re a community of desires not action.
É verdade que já deixei de ter paciência para Annie Ernaux, mas este livro, tal como as luzes a que se refere o título, estava a piscar no meu serviço de subscrição, por isso, cedi e, desta vez, não me arrependi, já que me deixa mais à vontade neste registo sociológico com que consigo identificar-me do que com as referências demasiado francesas ou com a sua memória afectiva, a qual me tem fornecido constrangedores momentos de voyeurismo.
Escrito quase como um diário entre novembro de 2012 e julho de 2013, “Look at the Lights My Love” relata, por vezes com um sentido de humor que não lhe conhecia, as mundanas incursões da autora no hipermercado da Auchan, num subúrbio francês, durante um período que conhece vários picos de consumo, o Natal, a Páscoa, o regresso às aulas, ou alturas mais mortas em que observa as duvidosas promoções…
The superstores’ art of making people believe in its benevolence.
…as campanhas dirigidas a quem ainda mais frequenta lojas…
Nothing has changed since Émile Zola’s “The Ladies’ Paradise”. Women are always the primary consenting targets of commerce.
…a quase ausência de outros livros à venda para além dos bestsellers, mas a alegria de encontrar um dos seus, mesmo que em formato de bolso.
In any case I always feel bad placing a book on a conveyor belt as if it were a sacrilege though I would be happy to see one of mine pulled from a shopping cart and slid onto the belt between a pound of butter and a pair of tights.
Mas, curiosamente, também se vê observada como figura pública quando algum leitor a reconhece.
At the checkout (…) a customer with a wheeled shopping basket offers me her spot. As I vigorously decline – do I look that tired ? That old? – she smiles and says she knows my writing (…). Placing my items on the conveyor belt I think a little uneasily that she’s going to look to what I’ve bought. Every item suddenly takes a loaded meaning, reveals my lifestyle.
Neste pequeno ensaio sobre a sociedade de consumo nesse grande nivelador social e étnico que é o hipermercado…
Whether we like it or not we form a community of desires here.
…Ernaux chama a atenção para as condições de trabalho nas fábricas de vestuário no Sudeste Asiático, faz um contraponto da abundância actual face à época do pós-guerra em que ela cresceu, comenta a falta de idas ao supermercado na ficção e, acima de tudo, insiste na cristalização da imagem da mulher, tanto no papel do grande consumidor por tradição e necessidade, como na perpetuação dos estereótipos.
Gender-conditioning doesn’t bother with subtleties or imagination. It’s all just like mom in miniature. I’m shaken with anger and a feeling of powerlessness. This is where you have to come, to places where our unconscious minds are shaped and slash and burn all these objects of transmission. I’ll be there.
E eu também, Annie!
Sign into Goodreads to see if any of your friends have read
Look at the Lights, My Love.
Sign In »
Reading Progress
August 15, 2023
–
Started Reading
August 15, 2023
– Shelved
August 15, 2023
–
3.0%
""The best-sellers are displayed over an area about 10 feet wide numbered fom 1 to 10 in huge figures as at the horse race.""
August 16, 2023
–
30.0%
"The food bank ladies dispatch the items people have given them: oil here, coffee there, etc. The stark impression of a market for the poor exposed in broad daylight."
August 18, 2023
–
50.0%
"The beginnng of wealth, of the levity of wealth, is discernible in the act of taking one item from the shelf of food without first checking the price. The humiliation inflicted by commercial goods: they are too expensive so I'm worth nothing."
August 23, 2023
–
80.0%
""Until now I've always refused to get the Auchan customer loyalty card. To the question ritually asked at the checkout: "Do you have a loyalty card?" I usually reply just as ritualistically: "I am loyal to no one.""
August 29, 2023
–
Finished Reading
Comments Showing 1-11 of 11 (11 new)
date
newest »
message 1:
by
Fátima
(new)
Aug 30, 2023 02:38AM
Por esse título nunca diria que seria uma obra sobre deambulações no supermercado (podia ter lido a sinopse, claro). Fez-me lembrar uma frase da Agustina, algo como "os supermercados são os palácios dos pobres."
reply
|
flag
Se a Agustina alguma vez foi a um supermercado deve ter sido ao Carrefour que até era perto da sua casa. Vai sair um novo da Ernaux mas não é este.
Celeste, a Ernaux faz esse exercício mental: que escritores franceses frequentariam o supermercado? Uns decerto mandariam lá as empregadas, digo eu.
Saem como pãezinhos quentes todos os meses; talvez chegue a vez deste em breve.
Saem como pãezinhos quentes todos os meses; talvez chegue a vez deste em breve.
Ui, não fazia ideia que este era de supermercados, são um lugar excelente para narrativas pessoais com vista ao funcionamento da sociedade. Eu não entro na estatística do Zola, já que cá em casa sou eu quem faz todas as compras :) e vou muitas vezes ao Auchan LOL
Ela também achou que sim, Nelson, e estranha não haver ficção passada por lá. Sim, vê-se muitos homens às compras, e ela também os refere, mas faz-lhe confusão a publicidade ainda ser tão dirigida às mulheres. Eu sou pouco elitista nessa campo, vou a todo o lado! :-)
O meu problema é que em casa somos 4, 5 a contar com a cadela, e cada um tem as suas preferências, por isso não consigo comprar tudo o que todos querem num único lugar :D
Nelson wrote: "O meu problema é que em casa somos 4, 5 a contar com a cadela, e cada um tem as suas preferências, por isso não consigo comprar tudo o que todos querem num único lugar :D"
Como eu, corro-os todos. Ainda hoje estava a pensar que tenho ir ao Aldi comprar ração para a minha, ao Mercado comprar areia de cristais para os gatos, e ir ao Auchan comprar chouriço aos filhos. Consumidor sofre! :-)
Como eu, corro-os todos. Ainda hoje estava a pensar que tenho ir ao Aldi comprar ração para a minha, ao Mercado comprar areia de cristais para os gatos, e ir ao Auchan comprar chouriço aos filhos. Consumidor sofre! :-)
Hey Paula, I thought you weren’t a fan of Ernaux? This one sounds fun? I liked those quote but really like the Zola quote (I loved Au Bonheur des Dames).
David wrote: "Hey Paula, I thought you weren’t a fan of Ernaux? This one sounds fun? I liked those quote but really like the Zola quote (I loved Au Bonheur des Dames)."
Not a fan at all, David, but she redeemed herself in this one and really made an effort to be less insufferable than usual. Haha!
I remember when you read that book by Zola which really suits Ernaux's case about women and shopping.
Not a fan at all, David, but she redeemed herself in this one and really made an effort to be less insufferable than usual. Haha!
I remember when you read that book by Zola which really suits Ernaux's case about women and shopping.