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O Sobrinho de Rameau

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O Sobrinho de Rameau (no original, em francês, Le Neveu de Rameau ou La Satire seconde) é um diálogo filosófico imaginado por Denis Diderot (1713-1784), entre Ele (Jean-François Rameau, sobrinho do célebre compositor) e Eu. Temas recorrentes na discussão são variados: a educação das crianças, o gênio, o dinheiro... A conversa muda de assunto a cada instante, abordando também personagens da época. Escrito entre e 1761 e 1774, o livro foi publicada, pela primeira vez, em língua alemã e não em francês, no ano de 1805, ou seja, mais de vinte anos depois da morte do autor.

Le Neveu de Rameau (1891).

Pouco se sabe das circunstâncias em que se deu a criação de O sobrinho de Rameau, pois Diderot as ocultava cuidadosamente. Presume-se que haja duas razões possíveis para tal dissimulação:

  1. A dimensão satírica da obra: são citados e ridicularizados os membros do chamado "partido devoto", inimigos do partido filosófico (Voltaire, os Enciclopedistas em geral, o próprio Diderot, D'Holbach, Helvétius, Hume, Dumarsais, Turgot e outros). A experiência da prisão e a edição clandestina da Encyclopédie podem ter induzido Diderot a manter certa discrição.
  2. Diderot possivelmente acreditava que a obra fosse pouco convencional, à frente de sua época, e queria preservá-la para a posteridade.

Por ocasião da morte de Diderot, um exemplar manuscrito é enviado à Rússia e um ou dois outros permanecem na França, com a família do filósofo. Quinze ou vinte anos depois, um russo, que havia lido e apreciado o livro, mostra-o a Schiller, que o oferece, por sua vez, a Goethe. Este último, traduz o texto em alemão e o faz publicar em 1805. Esse mesmo texto seria "traduzido" em francês, em 1821.

En 1891, Georges Monval, um arquivista da Comédie-Française, encontra, por acaso, no meio de um lote de documentos comprados de um alfarrabista parisiense, outro manuscrito de O sobrinho de Rameau - um autêntico autógrafo de Diderot. Desde então, esse manuscrito passa a ser o texto de referência para as novas edições da obra. [1].

Descrição geral da obra

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No prólogo que precede o diálogo, Eu apresenta Ele como sendo original, excêntrico e extravagante, cheio de contradições, "composto de profundidade e de baixeza, de bom senso e de desrazão". Provocador, ele elogia o roubo, o crime, e eleva o ouro a altura de uma religião, a qual adora. Eu parece ter o papel de ensinar.

O título do livro remete ao grande músico francês Jean-Philippe Rameau, autor de tratados sobre teoria musical e compositor. Mas o diálogo de Diderot se desenrola com o sobrinho deste músico, um boêmio sem teto que vive de expedientes, mas que entende de música e arte. Os dois discutem diversos aspectos da arte musical, de modo particular Ópera, Ópera Cômica ou Bufa, Balé e outras expressões artísticas.

Divagam sobre a função da arte no mundo dos homens, sobre a relação arte e natureza, sobre técnica e artifício, sobre bom gosto e belo, sobre invenção e inspiração, sobre harmonia e desarmonia na música e na vida, enfim, sobre os limites possíveis entre o mundo natural e o mundo humano, os choques eventuais entre as leis da natureza e leis civis, sobre o que a natureza oferece em dons e o que o homem faz.

Embora reais, os dois personagens são, nesse caso, alegorias. Trata-se, de fato, de um diálogo de Diderot consigo mesmo, sendo basicamente uma reflexão acerca da vida e da moral.

Referências

  1. Curran, Andrew S. Diderot and the Art of Thinking Freely, Other Press, 2019, p. 196-198.

Ligações externas

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