O mordomo-mor era o primeiro oficial da Casa Real Portuguesa e um dos chamados Grandes Cargos[1], sendo o responsável pela sua administração e pela superintendência de todos os restantes oficiais e funcionários da mesma.

D. Manrique da Silva desempenhando o papel de mordomo-mor na Aclamação de D. João IV em 1640; pintura de José da Cunha Taborda, 1823, Palácio Nacional da Ajuda

O cargo de mordomo (em latim major domus, significando "maior" ou "superior da casa") existia já na Casa dos Condes de Portucale, talvez segundo o modelo franco do mordomo do palácio, sendo, portanto, anterior ao próprio Reino de Portugal. O cargo continuou a existir após a fundação do Reino, tendo durado durante os oito séculos da Monarquia Portuguesa.

No início da Monarquia, época em que era ténue a distinção entre os assuntos de Estado e os assuntos particulares dos Reis de Portugal, sendo o principal administrador dos bens da Coroa, o mordomo-mor acabava também por ser responsável pela direção do governo do país, com funções análogas às de um moderno primeiro-ministro. Posteriormente, com o acentuar da separação entre os assuntos particulares dos reis e os assuntos de Estado, as funções de mordomo-mor limitaram-se cada vez mais apenas à gestão interna da Casa Real.

As rainhas de Portugal (consortes) tinham também o seu mordomo-mor privativo, responsável pela administração da Casa da Rainha.

Durante o Império do Brasil, segundo o modelo português, existiu também o cargo de mordomo-mor da Casa Imperial.

Funções

editar

Segundo o Regimento do Mordomo-Mor da Casa Real de 9 de agosto de 1792, competia ao mordomo-mor:

  • o governo e superintendência da Casa Real;
  • assegurar diariamente o bom cumprimento das suas obrigações pelos criados de serviço no Paço Real;
  • nomear o escrivão dos filhamentos, o escrivão das matrículas e os demais oficiais da Casa Real, consultando previamente o Rei;
  • nomear os titulares de outros ofícios da Casa Real;
  • aconselhar o Rei relativamente aos filhamentos (concessão de foros de fidalguia) e gerir o expediente e registos relacionados com os mesmos;
  • passar as cartas de estribeiro-mor, de armeiro-mor, de copeiro-mor, de mestre-sala e dos trinchantes nomeados pelo Rei, bem como propôr a nomeação e passar os respetivos alvarás aos guardas-roupas;
  • passar mandatos, como os dos tribunais, aos corregedores, provedores e juízes de fora das comarcas para os informarem acerca de assuntos relacionados com os filhamentos;
  • rubricar as portarias passadas pelo capelão-mor, pelo monteiro-mor e dar o visto aos alvarás e cartas do escrivão dos filhamentos;
  • nomear os contadores, provedores e escrivães dos contos;
  • proceder ao pagamento dos oficiais da Casa Real, através do tesoureiro da Casa;
  • superintender nas contas do Tesouro da Capela Real, através do seu tesoureiro da Capela;
  • superintender nas cavalariças e na alimentação dos cavalos da Casa Real, através do cevadeiro-mor e mariscal.

Titulares

editar

De entre os titulares do cargo de mordomo-mor figuraram algumas das personagens mais ilustres da história de Portugal, como são os casos de Egas Moniz e de Nun'Álvares Pereira.

Ofícios subordinados

editar

No final do século XVIII, ao mordomo-mor estavam subordinados os seguintes ofícios da Casa Real:

  • Escrivão da matrícula;
  • Escrivão dos filhamentos;
  • Tesoureiro das moradias;
  • Tesoureiro do Tesouro e Casa;
  • Guarda-reposte;
  • Tesoureiro da Tapeçaria;
  • Comprador das compras;
  • Cevadeiro-mor e mariscal;
  • Meirinho do Paço;
  • Prestais do serviço do Paço;
  • Porteiro da porta do governo;
  • Mantieiros;
  • Servidores de toalha;
  • Copeiro-menor;
  • Apontadores das moradias;
  • Escrivão do guarda-reposte;
  • Escrivão das moradias;
  • Escrivão da cevadaria;
  • Moço das compras;
  • Mestre-sala;
  • Mestre de ensinar a dançar as damas;
  • Moços da câmara;
  • Porteiros da câmara;
  • Reposteiros da câmara e do estrado;
  • Moços da estribeira;

Referências

Ligações externas

editar

Ver também

editar