Em "Diário do farol", um clérigo amoral e inescrupuloso relata as maldades que perpetrou ao longo da vida. Os maus-tratos que sofreu na infância mudaram profundamente sua forma de ver o ele constatou que não havia motivos para ser bom, e decidiu que seria para sempre mau. Deixando de lado o filtro de qualquer valor moral, o padre lança mão de astúcia, dissimulação, violência e todo tipo de recurso torpe para atingir seu principal objetivo – tornar-se o pior dos seres humanos. Com sua prosa engenhosa, João Ubaldo Ribeiro constrói um protagonista memorável, capaz de dialogar intensamente com o leitor e levá-lo a questionar os limites da moralidade humana.
Jornalista, escritor e argumentista brasileiro nascido a 23 de Janeiro de 1941, na Ilha de Itaparica, Bahía.
Estreou como jornalista em 1957 no Jornal da Bahia. Estudou Direito na Universidade Federal da Baía e, enquanto estudava, participou na edição de jornais e revistas e numa colectânea de contos editada pela universidade em 1961.
Em 1963, Ribeiro escreveu o seu primeiro romance, Setembro não faz sentido, que só foi publicado cinco anos mais tarde. Fez o mestrado em Administração Pública e Ciência Política, em 1964, na Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados Unidos da América, e, de 1965 a 1971, ingressa na Universidade Federal da Bahía como professor de Ciências Políticas.
Insatisfeito com a experiência, Ribeiro retoma a sua actividade como jornalista. Em 1971 publica o seu romance 'Sargento Getúlio', que foi alvo de produção cinematográfica em 1983. Viajou e viveu em vários lugares, entre eles em Portugal, em 1981, em consequência de uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Participou em vários eventos culturais no estrangeiro, como o Festival Internacional de Escritores (1982), no Canadá, e a Feira do Livro de Frankfurt (1994), na Alemanha. Professor catedrático na Universidade de Tubigem, na Alemanha, passou a fazer parte da Academia Brasileira de Letras em 1994.
Entre as várias obras do autor encontram-se os romances O sorriso do lagarto (1989), alvo da elaboração de uma série televisiva, A casa dos Budas Ditosos (1999) e Diário do Farol (2002), as crónicas Um brasileiro em Berlim (1995) e O Conselheiro Come (2000), e na literatura infanto-juvenil Vida e paixão de Pandomar, o cruel (1983).
Ribeiro venceu o prestigiado Prémio Camões em 2008.
Uma mistura de Nietzche, Schopenhauer e Freud. Um relato fiel e desconcertante de um sofrimento e um ser-no-mundo particulares e peculiares. Um romance que nos coloca frente a frente com o indubitável "gozo" e ambiguidade do ser humano frente ao desejo mais arcaico de retorno ao inorgânico e, também, do constante enfrentamento com o "nada". Relato de como a perversão, seus traços e a suposta superficialidade das relações ou, até mesmo, o narcisismo destas, são, de certa maneira, sustentados pela cultura atual e de como ela deu e ainda dá, na história, cabo às maiores atrocidades e barbáries do homem.
(Não) Fica a dica de livro sem capítulos, recheado de situações que causam repulsa, ódio e inconformismo. Em suma, a narrativa persegue os devaneios de um personagem louco. Reflexão pertinente: "Lê-se ficção, ou mesmo livros de historiadores ou jornalistas, por insegurança, porque o absurdo da vida é insuportável para a vastidão dos desvalidos que povoa a Terra".
Não é meu "sociopata " favorito. Primeira obra de Ubaldo Ribeiro que leio, um estilo muito verborragico e cansativo ,também sadismo e teor sexual. Sim a ficção nunca supera a realidade e esta não é memorável . Um tom de de deboche o protagonista narcisista conta sua estória de "traumas" que moldaram sua personalidade, mas não o justifica apenas o empodera em seguir seus instintos. Parece hilario e contraditório seus atos e seu possível suicídio. Não temos cavitacao psicológica, é apenas o que é um relato que poderia ser lido num jornal ou em redes sociais que causam sensação e depois caem no esquecimento. Lembrou um pouco "Nino Quemado" do Stig Dagerman, " mommy issues","daddy issues", ou apenas um homem comum ,latino americano,que pode estar ao nosso lado. Um livro que alguns saem com a mente ilesa ou para um certo tipo de leitor" masculino" ,alimenta com gozo perversão fetichista e delírios viris secretos . O coração humano é impureza e corrupção ,isto posso acreditar.
Narcisista, egocêntrico e louco... é para mim a melhor descrição deste personagem que eu penso me irá acompanhar durante algum tempo. Alucinado, vingativo, chego até a duvidar de alguns acontecimentos que ele nos conta e que penso podem não passar de alucinações. No final deixa-nos um aviso assustador: não andarão por aí pessoas destas em nosso redor??
Beautifully written, explicit story of a sociopath, where killing is the ultimate power of the human existence. Regaining power after being a powerless and innocent child.
"Diário do Farol" é uma narrativa potente em sua simplicidade. Nela, acompanhamos a construção de uma personagem maligna, compreendendo todos os pilares que fomentam a violência que cresce dentro dela. Escrito, como podemos imaginar, em forma de diário, as provocações entre protagonista e leitor dão sabor à sua personalidade. Por vezes, uma narrativa que fere aquele que lê, pois sua visão de mundo e ações destrutivas são de virar o estômago. Por outro lado, é uma janela para a mente dos perversos. A maligna personagem protagonista que conduz a história está longe de ser um caso isolado. O terror reside no fato de entendermos que uma pessoa assim vive no nosso bairro, talvez na porta ao lado. As relações entre personagens são construídas pelas teias de poder e qualquer prazer que podemos sentir entre um plano diabólico e outro oferece nova oportunidade para revisitarmos nosso próprio caráter. O estilo de João Ubaldo Ribeiro confere ritmo à narrativa, que flui muito bem. Apesar dessa opinião, confesso que me vi ansioso para pular alguns trechos. Por mais interessante que seja a sensação de ser cúmplice da mente sombria de um possível psicopata, suas constatações às vezes são repetitivas e enfadonhas. Essa é uma leitura rápida, embora o ritmo dependa muito da sua resistência - pois relatos de violências diversas tomam as páginas de "Diário do Farol". Para finalizar, é inegável a relação entre este livro e "Memórias do Subsolo", do Dostoiévski. Da maneira como o protagonista justifica a violência em si, aos passeios pela filosofia e a própria brincadeira sádica e metalinguística com o próprio leitor, são muitos os elementos que aproximam as duas obras.
Second time reading this novel from Ubaldo Ribeiro. Great atmosphere and sarcastic humour around the main character seeking for revenge against his father, who treated him miserably during his childhood.
Um excelente livro sobre a mais profunda sujeira e falta de escrúpulos que pode jazer escondida no âmago de cada ser humano. No caso do personagem principal, um sujeito orgulhoso de ser a pior pessoa do mundo, a crueldade transcende os pensamentos íntimos e afeta diretamente todas as pessoas que entram em contato consigo. Penetrar psicologicamente no pensamento de um sociopata que nos narra, em primeira pessoa, refletindo, segundo o seu próprio conceito moral, todas as atrocidade que comete, é uma experiência da qual poucos conseguem sair com a consciência ilesa.
O livro conta com todos os recursos literários que fizeram de João Ubaldo um dos melhores escritores brasileiros da atualidade. As divagações do narrador, a comicidade cruel em alguns pontos e uma retrospectiva histórica desnudada sobre o passado moderno do povo brasileiro.
Excelente. Um livro que aborda, numa narrativa em primeira pessoa, os cantos mais sombrios da mente humana, e a que ponto pode chegar alguém que se "liberta" de ideais de ética, moral e direito. Falar mais do que isso seria spoiler. Leiam.