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O Poço e a Estrada
Agustina: uma mulher controversa, uma vida extraordinária, uma obra genial.
«Mas tenho uma história, e que história. […] Ninguém a conhece.» Era com estas palavras enigmáticas que, aos setenta anos, muito perto da viragem do século, Agustina Bessa-Luís perspetivava a sua existência. Já nessa altura contava com mais de cinquenta títulos, entre romances, contos, biografias, peças de teatro, ensaios, livros para a infância e de memórias, dialogando com a História, com a sociedade que a rodeava, com outros escritores, com outros artistas.
Desde cedo, Agustina revelou ter consciência de que não era uma pessoa convencional. Não foi uma criança comum. Não casou nas circunstâncias que se esperariam de uma rapariga da sua condição social. Não foi a típica esposa e mãe burguesas. Não foi a apoiante política esperada. Nunca se afirmou feminista, mas a sua história de vida foi mais radical e corajosa do que a de muitas feministas convictas. E, como escritora, raros são os que têm dúvidas em apontá-la como uma das mais geniais e complexas personalidades da literatura em língua portuguesa.
Através de uma pesquisa extensiva e rigorosa, baseada em dezenas de entrevistas, testemunhos, documentários, registos oficiais e textos epistolares, estabelecendo pontes constantes com a obra literária de Agustina, Isabel Rio Novo, uma das mais talentosas romancistas portuguesas da atualidade, reconstitui o percurso de vida de uma figura ímpar da nossa cultura contemporânea, numa biografia que se lê como um romance.
«Mas tenho uma história, e que história. […] Ninguém a conhece.» Era com estas palavras enigmáticas que, aos setenta anos, muito perto da viragem do século, Agustina Bessa-Luís perspetivava a sua existência. Já nessa altura contava com mais de cinquenta títulos, entre romances, contos, biografias, peças de teatro, ensaios, livros para a infância e de memórias, dialogando com a História, com a sociedade que a rodeava, com outros escritores, com outros artistas.
Desde cedo, Agustina revelou ter consciência de que não era uma pessoa convencional. Não foi uma criança comum. Não casou nas circunstâncias que se esperariam de uma rapariga da sua condição social. Não foi a típica esposa e mãe burguesas. Não foi a apoiante política esperada. Nunca se afirmou feminista, mas a sua história de vida foi mais radical e corajosa do que a de muitas feministas convictas. E, como escritora, raros são os que têm dúvidas em apontá-la como uma das mais geniais e complexas personalidades da literatura em língua portuguesa.
Através de uma pesquisa extensiva e rigorosa, baseada em dezenas de entrevistas, testemunhos, documentários, registos oficiais e textos epistolares, estabelecendo pontes constantes com a obra literária de Agustina, Isabel Rio Novo, uma das mais talentosas romancistas portuguesas da atualidade, reconstitui o percurso de vida de uma figura ímpar da nossa cultura contemporânea, numa biografia que se lê como um romance.
504 pages, Paperback
Published February 1, 2019
About the author
Isabel Rio Novo
19 books79 followersIsabel Rio Novo nasceu no Porto, onde se doutorou em Literatura Comparada. Leciona Escrita Criativa e outras disciplinas no âmbito da literatura, cinema e outras artes, sendo autora de diversas publicações académicas nessas áreas. Integrou os júris de prémios literários e de fotografia. Os seus textos de ficção estão presentes em várias antologias, com destaque para a primeira coletânea de contos do Centro Mário Cláudio (O País Escondido, 2016). É autora de O Diabo Tranquilo, a partir de poemas de Daniel Maia-Pinto Rodrigues, da novela A Caridade (2005, Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes), do livro de contos Histórias com Santos (2014) e dos romances Rio do Esquecimento (2016, finalista do Prémio LeYa e semifinalista do Prémio Oceanos), Madalena (inédito, Prémio Literário João Gaspar Simões) e A Febre das Almas Sensíveis (2018, finalista do Prémio LeYa).
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Displaying 1 - 20 of 20 reviews
May 15, 2024
Chapeau, Isabel Rio Novo!
Não sendo de modo nenhum modesta, Agustina respondeu a Óscar Lopes, que teria dito que ela nunca seria muito lida:«Você está enganado, porque as gerações passam e as gerações para as quais eu estou hoje a escrever, que estou adiantada à época, são aquelas que daqui a três gerações vão ler os meus livros.»
«No decurso da sua longa vida literária, Agustina manteve com a celebridade e com as distinções de que foi sendo alvo uma relação ambígua e algo perversa. Tanto era capaz de exclamar "Ai que bom ter sucesso!", como de proclamar que "toda a celebridade tem qualquer coisa de necrófilo.»
Desempenhou diversos cargos públicos nomeadamente - sob uma chuva de críticas - o de directora do Teatro Nacional D. Maria II, uma experiência agridoce, que abandonou dizendo:
«[...] Este país em que vivemos é um "quintalório", como dizia o Aquilino Ribeiro, e continuará a ser enquanto não deitarmos os nossos muros abaixo.»
A história de amor de Alberto Luís e Agustina começou quando a escritora publicou um anúncio no extinto «O Primeiro de Janeiro» - onde décadas depois foi directora - à procura de uma pessoa culta com quem se corresponder. À época, Alberto Luís era estudante de Direito em Coimbra (onde residiram até ele terminar o curso). Casaram-se e estiveram juntos 72 anos.Discreto e sempre longe dos holofotes, Alberto Luís confessou em 2012 que durante décadas era ele «que batia os textos à máquina». «Era uma trabalheira», disse. Foi um marido admirável que de certo modo abandonou os seus objectivos profissionais (era advogado) para estimular, acarinhar e encorajar a vocação de Agustina.
Agustina foi uma mulher voluntariosa, ousada, irreverente, decidida, dura, corrosiva, tinha sentido de humor, abominava a mediocridade e acima de tudo era livre e desafiava as convenções.
Este livro não é um romance mas uma biografia conforme consta na capa- mas é também um excelente abrir portas ao complexo universo romanesco de Agustina. Se eu dia, me aventurar....
Não sendo de modo nenhum modesta, Agustina respondeu a Óscar Lopes, que teria dito que ela nunca seria muito lida:«Você está enganado, porque as gerações passam e as gerações para as quais eu estou hoje a escrever, que estou adiantada à época, são aquelas que daqui a três gerações vão ler os meus livros.»
«No decurso da sua longa vida literária, Agustina manteve com a celebridade e com as distinções de que foi sendo alvo uma relação ambígua e algo perversa. Tanto era capaz de exclamar "Ai que bom ter sucesso!", como de proclamar que "toda a celebridade tem qualquer coisa de necrófilo.»
Desempenhou diversos cargos públicos nomeadamente - sob uma chuva de críticas - o de directora do Teatro Nacional D. Maria II, uma experiência agridoce, que abandonou dizendo:
«[...] Este país em que vivemos é um "quintalório", como dizia o Aquilino Ribeiro, e continuará a ser enquanto não deitarmos os nossos muros abaixo.»
A história de amor de Alberto Luís e Agustina começou quando a escritora publicou um anúncio no extinto «O Primeiro de Janeiro» - onde décadas depois foi directora - à procura de uma pessoa culta com quem se corresponder. À época, Alberto Luís era estudante de Direito em Coimbra (onde residiram até ele terminar o curso). Casaram-se e estiveram juntos 72 anos.Discreto e sempre longe dos holofotes, Alberto Luís confessou em 2012 que durante décadas era ele «que batia os textos à máquina». «Era uma trabalheira», disse. Foi um marido admirável que de certo modo abandonou os seus objectivos profissionais (era advogado) para estimular, acarinhar e encorajar a vocação de Agustina.
Agustina foi uma mulher voluntariosa, ousada, irreverente, decidida, dura, corrosiva, tinha sentido de humor, abominava a mediocridade e acima de tudo era livre e desafiava as convenções.
Este livro não é um romance mas uma biografia conforme consta na capa- mas é também um excelente abrir portas ao complexo universo romanesco de Agustina. Se eu dia, me aventurar....
April 22, 2024
Maravilhosa esta biografia. Fez-me querer ler mais obras da Agustina e passar nos sítios onde viveu/escreveu!
A forma como a escritora é retratada é simplesmente fantástica. Nota-se a admiração da biógrafa pela sua biografada. Não faz de Agustina um anjo, nem um ser superior e especial, pelo contrário, mostra-nos uma Agustina inteligente, bem humorada, conhecedora da vida, do mundo e das relações humanas. Talvez até um pouco fria, distante, pois o que queria fazer era escrever e escrever, e foi isso que fez, sempre com o apoio do marido.
Agustina é o nome de uma pessoa extraordinária. Essa pessoa foi amada, estimada, odiada. Deixa filha, netos, bisnetos, amigos. Agustina é também o nome de uma obra extraordinária, "um mundo infindável", "uma galáxia", "um universo".
A forma como a escritora é retratada é simplesmente fantástica. Nota-se a admiração da biógrafa pela sua biografada. Não faz de Agustina um anjo, nem um ser superior e especial, pelo contrário, mostra-nos uma Agustina inteligente, bem humorada, conhecedora da vida, do mundo e das relações humanas. Talvez até um pouco fria, distante, pois o que queria fazer era escrever e escrever, e foi isso que fez, sempre com o apoio do marido.
Agustina é o nome de uma pessoa extraordinária. Essa pessoa foi amada, estimada, odiada. Deixa filha, netos, bisnetos, amigos. Agustina é também o nome de uma obra extraordinária, "um mundo infindável", "uma galáxia", "um universo".
January 12, 2022
“«Qualquer vida dá um romance, é só encontrar lá essa força romanesca.»”
“Agustina acreditava ser possuidora de um dom, à maneira romântica, tornado destino. Sabia que lhe competia esforçar-se por o exercitar, o dominar, o extremar.”
“«As obras perduram ou esquecem, segundo a eternidade do espírito que as realizou.»”
“«Tudo passa – e nada fica mudado; donde se conclui que a vida honestamente prescinde dos críticos. E eu também.»”
“Agustina é o nome de uma pessoa extraordinária. Essa pessoa foi amada, estimada, odiada. Deixa filha, netos, bisnetos, amigos. Agustina é também o nome de uma obra extraordinária, «um mundo infindável», «uma galáxia», «um universo».”
“«Eu vou fazer falta no meu enterro porque não estando eu lá viva, não será um enterro divertido, não será uma ocasião divertida.»”
“Agustina acreditava ser possuidora de um dom, à maneira romântica, tornado destino. Sabia que lhe competia esforçar-se por o exercitar, o dominar, o extremar.”
“«As obras perduram ou esquecem, segundo a eternidade do espírito que as realizou.»”
“«Tudo passa – e nada fica mudado; donde se conclui que a vida honestamente prescinde dos críticos. E eu também.»”
“Agustina é o nome de uma pessoa extraordinária. Essa pessoa foi amada, estimada, odiada. Deixa filha, netos, bisnetos, amigos. Agustina é também o nome de uma obra extraordinária, «um mundo infindável», «uma galáxia», «um universo».”
“«Eu vou fazer falta no meu enterro porque não estando eu lá viva, não será um enterro divertido, não será uma ocasião divertida.»”
March 22, 2024
4.5 ⭐️
“Agustina nunca foi uma pessoa ou uma escritora consensual. Mesmo aqueles que nunca lhe leram os livros têm uma opinião firme a respeito do seu estilo. Pessoa controversa, interventiva e inesperada, não andou pelo mundo “como quem contempla uma paisagem.”
Não é preciso conhecer a obra de Agustina para gostar deste livro. Bem escrito, com um trabalho de investigação sério e bem documentado, a autora conseguiu fazer da vida da escritora uma história verdadeiramente distinta e primorosa.
Recomendo!
“Agustina nunca foi uma pessoa ou uma escritora consensual. Mesmo aqueles que nunca lhe leram os livros têm uma opinião firme a respeito do seu estilo. Pessoa controversa, interventiva e inesperada, não andou pelo mundo “como quem contempla uma paisagem.”
Não é preciso conhecer a obra de Agustina para gostar deste livro. Bem escrito, com um trabalho de investigação sério e bem documentado, a autora conseguiu fazer da vida da escritora uma história verdadeiramente distinta e primorosa.
Recomendo!
March 24, 2019
Uma excelente biografia de uma das mais consagradas figuras da literatura portuguesa contemporânea. Mesmo para quem, como eu, não é grande leitor da obra de Agustina. Isabel Rio Novo escreve esta biografia, não apenas baseada em entrevistas e documentos históricos, mas principalmente numa close reading da obra agustiniana, e é esse aspecto que lhe confere uma marca de destacada qualidade.
December 1, 2022
Agustina foi uma "personagem" e tanto, mas o mérito deste livro é todo da Isabel Rio Novo! 👏👏
Read
July 1, 2019Boa primeira metade. A segunda metade parece ter sido escrita mais à pressa e não acompanha a vida de Agustina tão pormenorizadamente como se esperaria. A biografia ressente-se da falta de apoio e informação da família de Agustina. No cômputo geral, no entanto, é uma leitura interessante, o que, numa biografia, é um feito mais difícil de conseguir do que parece. Insiste demasiado em alguns lugares-comuns sobre a escritora (como o interesse desta por roupas e jóias), atribuindo-lhes uma importância discutível, mas tece ligações perspicazes entre a obra e a vida de Agustina.
April 15, 2023
Quando comprei, na feira do livro, O Poço e a Estrada - Biografia de Agustina Bessa-Luís, de Isabel Rio Novo sabia que era um livro que não iria ficar muito tempo na estante à espera que chegasse a sua vez de ser lido. Sabia que a autora era uma apaixonada pela obra de Agustina Bessa-Luís. Isto, só por si, já era razão suficiente para acreditar que estaria perante uma boa biografia, mas também porque gosto da Isabel Rio Novo, porque gosto da sua escrita (li Rio do Esquecimento e A Febre das Almas Sensíveis, dois romances que recomendo muito).
Considero que a Isabel fez um excelente trabalho nesta biografia. Demonstrou ter pleno conhecimento da obra da biografada e fez uma extensa e minuciosa pesquisa baseada em testemunhos e registos de vária ordem, devidamente referenciados. Conseguiu ser rigorosa e isenta nas suas opiniões. Gostei do seu testemunho pessoal que, de vez em quando, irrompe no meio da narrativa e apreciei os factos relatados que tão bem caracterizam a época e assim ajudam a compreender alguns aspectos da vida da biografada.
Mais o mais importante para mim, e tal como o desejou a Isabel quando autografou este meu livro, é que a sua leitura me faça (re)descobrir Agustina. De facto, isso foi conseguido e prometo reler A Sibila e ler outros que nunca li (A Ronda da Noite será um dos primeiros). Agora, que conheço melhor a Agustina Bessa-Luís, estarei, certamente, mais apta a compreender a sua obra considerada por alguns (muitos) tão controversa.
Considero que a Isabel fez um excelente trabalho nesta biografia. Demonstrou ter pleno conhecimento da obra da biografada e fez uma extensa e minuciosa pesquisa baseada em testemunhos e registos de vária ordem, devidamente referenciados. Conseguiu ser rigorosa e isenta nas suas opiniões. Gostei do seu testemunho pessoal que, de vez em quando, irrompe no meio da narrativa e apreciei os factos relatados que tão bem caracterizam a época e assim ajudam a compreender alguns aspectos da vida da biografada.
Mais o mais importante para mim, e tal como o desejou a Isabel quando autografou este meu livro, é que a sua leitura me faça (re)descobrir Agustina. De facto, isso foi conseguido e prometo reler A Sibila e ler outros que nunca li (A Ronda da Noite será um dos primeiros). Agora, que conheço melhor a Agustina Bessa-Luís, estarei, certamente, mais apta a compreender a sua obra considerada por alguns (muitos) tão controversa.
July 10, 2023
Foi bom e enriquecedor conhecer a vida e obra de Agustina Bessa-Luis através do olhar de Isabel Rio Novo.
Read
May 13, 2019Existe uma Agustina que se insinuou ao longo da sua imensa obra, fazendo-se presente nos episódios de infância, nas histórias, espaços e pessoas, algumas de passagem outras nem tanto. Isabel Rio Novo resgatou-a desse limiar de ficção.
Ler mais em Acrítico - leituras dispersas
Ler mais em Acrítico - leituras dispersas
May 6, 2019
Excelente biografia.
August 8, 2019
As três estrelas vão para o objecto de estudo! Foi o primeiro contacto que tive com a escrita de Isabel Rio Novo, e não me encantou... esforçada, socorreu-se extensivamente da obra de Agustina e seguiu-lhe os passos, e aqui é que está o busílis da coisa: descrições romanceadas da sua viagem à Régua para conhecer o local, considerações acerca da vida do quotidiano, do sucesso/insucesso escolar da filha de Agustina... Sendo uma apreciadora de biografias considero O Poço e a Estrada uma leitura agradável, mas não deslumbra, não é feito jus à biografada.
November 4, 2022
Biografia honesta e competente, escrita com isenção científica mas sem abdicar do fascínio que a biografada exerce sobre a autora. Um estudo muito completo sobre a vida e a obra de Agustina Bessa-Luís.
“(…) como me apaixonei pela obra de Agustina (…) arrebatada pelo movimento interior de uma narrativa insubmissa a todos os padrões que conhecia. Apaixonei-me por Agustina pelas mesmas razões razões por que outros a repudiam. As suas personagens eram instáveis e fragmentadas; perturbavam-me, mas faziam-me pensar. Os seus romances não obedeciam a uma ordenação lógico-discursiva, mas a uma disposição tumultuosa, a uma implacável lógica interna, que não me conduzia propriamente a parte nenhuma, senão a mim mesma, dando-me a conhecer a minha agitação interior, revelando-a, na sua complexa simplicidade. A linguagem era toda ela de molde a agradar-me. A frase longa. O vocabulário rico. O jeito de contar várias vezes o mesmo episódio , como uma obsessão. As intervenções da narradora, cuja voz se confundia com a corrente da consciência das personagens e me desafiava na sua ambiguidade. Ah, e os belos, enigmáticos e sinuosos aforismos, claro.”
Isabel Rio Novo, “O Poço e a Estrada, Biografia de Agustina Bessa-Luís
“(…) como me apaixonei pela obra de Agustina (…) arrebatada pelo movimento interior de uma narrativa insubmissa a todos os padrões que conhecia. Apaixonei-me por Agustina pelas mesmas razões razões por que outros a repudiam. As suas personagens eram instáveis e fragmentadas; perturbavam-me, mas faziam-me pensar. Os seus romances não obedeciam a uma ordenação lógico-discursiva, mas a uma disposição tumultuosa, a uma implacável lógica interna, que não me conduzia propriamente a parte nenhuma, senão a mim mesma, dando-me a conhecer a minha agitação interior, revelando-a, na sua complexa simplicidade. A linguagem era toda ela de molde a agradar-me. A frase longa. O vocabulário rico. O jeito de contar várias vezes o mesmo episódio , como uma obsessão. As intervenções da narradora, cuja voz se confundia com a corrente da consciência das personagens e me desafiava na sua ambiguidade. Ah, e os belos, enigmáticos e sinuosos aforismos, claro.”
Isabel Rio Novo, “O Poço e a Estrada, Biografia de Agustina Bessa-Luís
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March 24, 2020Agustina Bessa- Luís é uma das mais importantes escritoras de língua portuguesa. Nesta biografia, Isabel Rio Novo constrói um retrato de Agustina através dos livros, entrevistas, cartas, textos e visitas a locais marcantes da vida da escritora recorrendo também a conversas com algumas das pessoas que lhe foram próximas.
CDU:
821.134.3 Luís, Agustina Bessa
929 Luís, Agustina Bessa
Livro recomendado PNL2027 - 2019 2.º Sem. - Biografia - maiores 18 anos - Mediana
http://pnl2027.gov.pt/np4/livrospnl?c...
CDU:
821.134.3 Luís, Agustina Bessa
929 Luís, Agustina Bessa
Livro recomendado PNL2027 - 2019 2.º Sem. - Biografia - maiores 18 anos - Mediana
http://pnl2027.gov.pt/np4/livrospnl?c...
April 7, 2019
5 Estrelas porque sim...porque adoro a Augustina e a sua obra e porque vale sempre a pena ler uma Biografia bem escrita, envolvente e séria.
Adorei os pormenores da sua vida e devorei o livro como se de um romance se tratasse...e será que não é tambem??
Adorei os pormenores da sua vida e devorei o livro como se de um romance se tratasse...e será que não é tambem??
April 19, 2020
Promover ou reforçar a descoberta, a compreensão e o amor pela figura de Agustina Bessa-Luís e pela sua obra, tal é o grande mérito de “O Poço e a Estrada”. Biografia não autorizada com assinatura de Isabel Rio Novo, nela se desvenda, de forma apaixonada, o mundo daquela a quem António José Saraiva se referiu como “a grande revelação, o segundo milagre do século XX português”, logo após Fernando Pessoa. Com humildade e elegância, a autora mostra-se exímia em contornar os escolhos que se levantaram à feitura deste livro e, tal como Agustina, vai descobrindo nas páginas extraordinárias escritas por outros, “um milagre, uma criação do mundo”. A elas junta as suas próprias páginas, nas quais se destacam os testemunhos daqueles que conviveram com Agustina, as visitas aos lugares da escritora e a leitura cuidada da sua vasta obra publicada. Este “artesanato impossível da biografia verdadeira”, encara-o Isabel Rio Novo como o seu grande desígnio e o seu grande desafio. O resultado está à vista e não poderia ser mais intenso e estimulante.
Uma das facetas mais sedutoras de “O Poço e a Estrada” advém da forma como a autora constrói a narrativa, combinando de forma notável a natureza verídica do relato com a liberdade criativa da ficção. Num misto de zelo e paixão que encanta e comove, Isabel Rio Novo recolhe os “rastos pessoais” possíveis daquela que a si própria se designou como “uma espécie de Dostoievsky” e, abraçando o desígnio de “chamar Agustina”, faz incidir sobre eles as suas qualidades de romancista, oferecendo ao leitor um relato vívido de Agustina, onde o divertido e o sério se elevam como marcas distintivas de uma vida que, em si mesma, encerra “um feixe de contradições”.
Sabendo reconhecer que “a possibilidade duma realidade é infinita”, a autora quis ver Agustina como uma personagem, como ela pediu que a vissem. Através da pesquisa do coração humano, como ela aconselhou. É assim que Agustina se passeia pelas páginas deste livro, desde o seu nascimento em Vila Meã, no seio de uma família burguesa tradicional ligada à terra, até aos derradeiros dias, tomada pela doença, na Rua do Gólgota, nessa “casa de paredes cor-de-rosa, ocultada por um portão verde, que se abria sobre um jardim belíssimo, com uma vista deslumbrante sobre a barra do Douro e, na outra margem, os barcos atracados ao largo da Afurada.” Pelo meio ficam passagens tão ricas, tão cheias de sons e de cores, como a deliciosa descrição da Póvoa de Varzim nos anos 1930, o tremendo duelo sob a forma de opúsculos com o crítico literário Jaime Brasil, a premiação e a publicação de “A Sibila”, a sólida amizade com Maria Helena Vieira da Silva, a tumultuosa experiência da coisa pública, as antipatias e ódios de estimação que concitou no meio literário ou a profícua colaboração com o cineasta Manoel de Oliveira.
“Quem esperar encontrar na biografia de um génio a explicação da sua genialidade perde o seu tempo.” Isto sabe Isabel Rio Novo, tal como sabe, melhor que ninguém, que “a vida de Agustina não cabe nos limites cronológicos do seu nascimento e da sua morte”, devendo ser indagada “no futuro da sua obra”. Daí debruçar-se, de forma emotiva, sobre “a relação de Agustina com os seus fantasmas, pessoas da sua família e outros seres da sua convivência, com quem foi travando um diálogo, em quem se inspirou para compor um universo ficcional.” Com enorme sensibilidade, os livros de Agustina sucedem-se e as respectivas personagens vão-se cruzando com as figuras que compuseram o universo da escritora, biógrafa e biografada em comunhão perfeita nesse ofício de misturar e confundir o real e o aparente. Pode o resultado final ser tudo menos linear? Pode. Mas que interessa isso. “Até quando não me interpretam, compreendem-me. Até quando não aderem, aprovam-me”, disse Agustina.
Agustina pode provocar sentimentos de temor, de controvérsia, de distância também, porque não é à toa que a sua figura pertence à nossa galeria de mitos nacionais e não é evidente chegar-se perto dos mitos sem correr o risco de lhes descobrir a medida da realidade. Isabel Rio Novo mostrou a sua ousadia ao aceitar correr esse risco. Se lhe disser que, graças a “O Poço e a Estrada”, a minha descoberta de Agustina e a compreensão pela sua pessoa são agora maiores, que o amor à sua obra se tornou mais forte ainda, estarei apenas a cumprir um dever de gratidão pela forma admirável como soube pegar na vida de uma das mais geniais e complexas personalidades da literatura em língua portuguesa e engrandecê-la, devolvendo-a sob a forma deste livro. Ela própria biógrafa, Agustina Bessa-Luís ter-se-á furtado a escrever uma autêntica autobiografia. Em contrapartida, afirmou que a melhor biografia seria aquela que fosse feita pelo próprio. Quero crer que a sua opinião não seria a mesma caso tivesse podido ler “O Poço e a Estrada”.
Uma das facetas mais sedutoras de “O Poço e a Estrada” advém da forma como a autora constrói a narrativa, combinando de forma notável a natureza verídica do relato com a liberdade criativa da ficção. Num misto de zelo e paixão que encanta e comove, Isabel Rio Novo recolhe os “rastos pessoais” possíveis daquela que a si própria se designou como “uma espécie de Dostoievsky” e, abraçando o desígnio de “chamar Agustina”, faz incidir sobre eles as suas qualidades de romancista, oferecendo ao leitor um relato vívido de Agustina, onde o divertido e o sério se elevam como marcas distintivas de uma vida que, em si mesma, encerra “um feixe de contradições”.
Sabendo reconhecer que “a possibilidade duma realidade é infinita”, a autora quis ver Agustina como uma personagem, como ela pediu que a vissem. Através da pesquisa do coração humano, como ela aconselhou. É assim que Agustina se passeia pelas páginas deste livro, desde o seu nascimento em Vila Meã, no seio de uma família burguesa tradicional ligada à terra, até aos derradeiros dias, tomada pela doença, na Rua do Gólgota, nessa “casa de paredes cor-de-rosa, ocultada por um portão verde, que se abria sobre um jardim belíssimo, com uma vista deslumbrante sobre a barra do Douro e, na outra margem, os barcos atracados ao largo da Afurada.” Pelo meio ficam passagens tão ricas, tão cheias de sons e de cores, como a deliciosa descrição da Póvoa de Varzim nos anos 1930, o tremendo duelo sob a forma de opúsculos com o crítico literário Jaime Brasil, a premiação e a publicação de “A Sibila”, a sólida amizade com Maria Helena Vieira da Silva, a tumultuosa experiência da coisa pública, as antipatias e ódios de estimação que concitou no meio literário ou a profícua colaboração com o cineasta Manoel de Oliveira.
“Quem esperar encontrar na biografia de um génio a explicação da sua genialidade perde o seu tempo.” Isto sabe Isabel Rio Novo, tal como sabe, melhor que ninguém, que “a vida de Agustina não cabe nos limites cronológicos do seu nascimento e da sua morte”, devendo ser indagada “no futuro da sua obra”. Daí debruçar-se, de forma emotiva, sobre “a relação de Agustina com os seus fantasmas, pessoas da sua família e outros seres da sua convivência, com quem foi travando um diálogo, em quem se inspirou para compor um universo ficcional.” Com enorme sensibilidade, os livros de Agustina sucedem-se e as respectivas personagens vão-se cruzando com as figuras que compuseram o universo da escritora, biógrafa e biografada em comunhão perfeita nesse ofício de misturar e confundir o real e o aparente. Pode o resultado final ser tudo menos linear? Pode. Mas que interessa isso. “Até quando não me interpretam, compreendem-me. Até quando não aderem, aprovam-me”, disse Agustina.
Agustina pode provocar sentimentos de temor, de controvérsia, de distância também, porque não é à toa que a sua figura pertence à nossa galeria de mitos nacionais e não é evidente chegar-se perto dos mitos sem correr o risco de lhes descobrir a medida da realidade. Isabel Rio Novo mostrou a sua ousadia ao aceitar correr esse risco. Se lhe disser que, graças a “O Poço e a Estrada”, a minha descoberta de Agustina e a compreensão pela sua pessoa são agora maiores, que o amor à sua obra se tornou mais forte ainda, estarei apenas a cumprir um dever de gratidão pela forma admirável como soube pegar na vida de uma das mais geniais e complexas personalidades da literatura em língua portuguesa e engrandecê-la, devolvendo-a sob a forma deste livro. Ela própria biógrafa, Agustina Bessa-Luís ter-se-á furtado a escrever uma autêntica autobiografia. Em contrapartida, afirmou que a melhor biografia seria aquela que fosse feita pelo próprio. Quero crer que a sua opinião não seria a mesma caso tivesse podido ler “O Poço e a Estrada”.
December 8, 2019
Tenho lido vários livros extraordinários este ano, também porque foi o ano de lançamento de Portugal, uma retrospectiva. Mas este, uma biografia, li-o com a expectativa e a urgência com que leio um bom romance.
A biógrafa não esconde nunca a sua identidade, usando sempre a primeira pessoa ao longo do texto. Mas isto não significou parcialidade, quer do lado do elogio quer pelo lado da crítica. Isabel Rio Novo consultou arquivos e bibliotecas, entrevistou pessoas (com excepção da família, que ostensivamente se colocou à margem) mas deixou sempre margem para a conjectura e a suposição. A vida de Agustina prestou-se a perplexidades e a duas reacções: ou amor ou ódio. E deste ponto de vista a biografia permite ao leitor ajuizar por si próprio, em cada passo, quer o da audácia da escolha de marido (p.131), quer as suas opiniões políticas (p.274), as suas passagens pelo jornalismo (p.313) ou pelo serviço público (p.327), o comportamento de uma mulher que quis ser extraordinária e que assim viveu e escreveu, não se importando com o que os outros esperavam dela. Por isso avançou para a direcção do Teatro Nacional, ou pelo menos assim o entendo.
Vejo-a como uma criança travessa, que continua a rir-se das nossas perplexidades. E nos podemos rir-nos com ela ao ler as suas páginas.
A biógrafa não esconde nunca a sua identidade, usando sempre a primeira pessoa ao longo do texto. Mas isto não significou parcialidade, quer do lado do elogio quer pelo lado da crítica. Isabel Rio Novo consultou arquivos e bibliotecas, entrevistou pessoas (com excepção da família, que ostensivamente se colocou à margem) mas deixou sempre margem para a conjectura e a suposição. A vida de Agustina prestou-se a perplexidades e a duas reacções: ou amor ou ódio. E deste ponto de vista a biografia permite ao leitor ajuizar por si próprio, em cada passo, quer o da audácia da escolha de marido (p.131), quer as suas opiniões políticas (p.274), as suas passagens pelo jornalismo (p.313) ou pelo serviço público (p.327), o comportamento de uma mulher que quis ser extraordinária e que assim viveu e escreveu, não se importando com o que os outros esperavam dela. Por isso avançou para a direcção do Teatro Nacional, ou pelo menos assim o entendo.
Vejo-a como uma criança travessa, que continua a rir-se das nossas perplexidades. E nos podemos rir-nos com ela ao ler as suas páginas.
September 19, 2019
Gostei muito. Nunca tinha lido nada de Isabel Rio Novo e fiquei agradavelmente surpreendida. Como biógrafa de Agustina, acho que fez um trabalho excelente, construindo um conhecimento profundo da sua obra, através do que parece ter sido uma investigação documental muito cuidadosa. Para além da obra da biografada, imensa, nem fazia ideia, correspondência, entrevistas, filmes, tudo parece ter sido minuciosamente lidos, ouvido, visto e cuidadosamente enquadrado, interpretado, relacionado... Parece-me ser aí que reside a força desta biografia. Saio dela como se tivesse conhecido Agustina pessoalmente, com as suas inúmeras qualidades, as suas fraquezas, a sua singularidade, o seu génio, sem dúvida. Isabel Rio Novo revela indisfarçável admiração por Agustina, não bajulação, mas uma admiração sincera e que nos contagia. Atinge assim o que penso ser o objectivo de qualquer biógrafo, manter viva a memória dos que partem, compreendê-los e despertar nos leitores a admiração e o interesse pela vida e obra do biografado. No meu caso, que conheço mal a obra de Agustina, conseguiu-o. Há 2 livros em particular que não descansarei enquanto não os ler.
July 16, 2020
A leitura desta biografia revelou ser para mim um belíssimo ponto de partida para o aprofundar da obra literária de Bessa-Luís. Tendo começado a leitura desta biografia algo expectante — sendo a obra da biografada para mim (ainda) uma incógnita — fiquei agradavelmente curiosa e com um sentimento de satisfação perante a descrição que Isabel Rio Novo faz acerca da vida da nossa biografada. A leitura deste livro é bastante esclarecedora das várias etapas de uma vida, sendo as várias referências e citações bastante aprazíveis (e complementares), revelando um interesse genuíno e curiosidade algo insaciáveis por parte da autora.
April 2, 2021
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